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A tradição apostólica do Novo Testamento

A tradição apostólica do Novo Testamento

R. C. Sproul
Há mais de quarenta anos, Los Angeles experimentou um terrível terremoto, um dos piores na história da cidade. Lembro-me do evento porque, pouco antes do terremoto, eu tinha levado um amigo ao aeroporto para pegar um vôo para Los Angeles, onde ele era pastor. O terremoto afetou a sua igreja. Depois ele me disse que no começo tudo parecia estar bem com a construção do santuário. Porém, embora não houvesse nenhum dano visível de qualquer importância, uma inspeção posterior revelou que a fundação da igreja tinha se movido a tal ponto que eles tiveram que fechar a igreja e reconstruir o santuário, porque ele já não era seguro. Para qualquer observador desatento, parecia que o santuário era estável. Entretanto, na realidade era impróprio para o uso, e precisou ser demolido e reconstruído sobre um fundamento seguro.
No Salmo 11.3, Davi faz a seguinte pergunta: “Ora, destruídos os fundamentos, que poderá fazer o justo?”. Davi extrai uma analogia do reino físico para descrever uma preocupação espiritual particular que ele tinha. Se o fracasso de um fundamento físico de um edifício implica no fim de todo o edifício, o fracasso do povo de Deus em manter o fundamento da verdade indica um desastre para sua saúde e bem-estar espiritual.
Podemos aplicar essa ideia à igreja. Se o fundamento da igreja for abalado, a igreja pode sobreviver? Não. Mas qual é o fundamento da igreja? Responder corretamente essa pergunta nos ajudará a proteger o fundamento e a preservar a verdade de Deus.
Ensinei muitas vezes sobre esse assunto — o fundamento da igreja — em meus anos de ministério. Muitas vezes sinalizei que, embora o autor da frase “o único fundamento da igreja é Jesus Cristo, nosso Senhor” tinha o seu coração posto no lugar certo quando estava escrevendo o seu hino, o verso em si é um canal de desinformação. Com respeito ao fundamento da igreja, a Escritura, de fato, fala sobre Jesus como o fundamento: “Porque ninguém pode lançar outro fundamento, além do que foi posto, o qual é Jesus Cristo” (1 Coríntios 3.11). No entanto, isso não é tudo o que o Novo Testamento diz sobre a fundamento da igreja. Paulo diz em Efésios 2.20 que Jesus é, na verdade, “a pedra angular”. Jesus é chamado de fundamento porque ele é o elemento-chave de todo o fundamento. Mas há outras pedras nessa fundação.
Qual é, então, o restante do fundamento? O fundamento, Paulo nos diz, consiste dos profetas e dos apóstolos (Efésios 2.18-21). Em Apocalipse 21, lemos sobre a visão magnífica da Nova Jerusalém, a cidade celestial que desce do alto. O versículo 14 nos diz que “A muralha da cidade tinha doze fundamentos, e estavam sobre estes os doze nomes dos doze apóstolos do Cordeiro”. Mesmo a Jerusalém celestial é baseada no fundamento dos apóstolos.
Historicamente, a igreja cristã é, em sua essência, apostólica. O termo apóstolo vem da palavra grega apostolos, que significa “aquele que é enviado”. Na cultura grega antiga, um apostolos era antes de tudo um mensageiro, um embaixador ou um emissário. Mas ele não era apenas um mensageiro. Ele era um emissário que estava autorizado pelo rei a representá-lo em sua ausência, e ele carregava a autoridade do rei.
O primeiro apóstolo no Novo Testamento foi, na verdade, Jesus, porque ele foi enviado por seu Pai ao mundo. Temos o quadro mais completo do que é ser um apóstolo ao olhar para o que Jesus diz no Novo Testamento sobre esta sua função. Jesus disse: “nada faço por mim mesmo; mas falo como o Pai me ensinou” (João 8.28). Cristo disse aos seus discípulos: “Porque eu não tenho falado por mim mesmo, mas o Pai, que me enviou, esse me tem prescrito o que dizer e o que anunciar” (12.49). Ele disse: “Toda a autoridade me foi dada no céu e na terra” (Mateus 28.18). Jesus recebeu autoridade de Deus Pai para falar em nome do Pai e anunciar a Palavra do seu Pai, de modo que o ensinamento de Jesus tinha autoridade de Deus.
Os apóstolos falaram com uma autoridade transferida de Cristo para anunciar os seus ensinamentos. Os apóstolos ensinaram com a autoridade de Jesus, que, por sua vez, ensinou com a autoridade de Deus. Portanto, como o pai da igreja Ireneu argumentou há muito tempo, rejeitar a autoridade apostólica é rejeitar a autoridade de Jesus. E, em última análise, rejeitar a autoridade de Jesus é rejeitar a autoridade de Deus.
Este conceito de autoridade apostólica é de vital importância para a fé cristã. Mas como reconhecemos a autoridade apostólica? Pela submissão à tradição apostólica. Em 1 Coríntios 15.3, Paulo nos afirma: “Eu vos entreguei antes de tudo o que também recebi”, e ele usa a palavra paradosis, que é o termo grego que traduzimos como “tradição”. Paradosis significa literalmente “uma doação, uma transferência”, e é isso que o Novo Testamento é. Trata-se da tradição apostólica que a igreja recebeu. A igreja a recebeu dos apóstolos, que a receberam de Cristo, que a recebeu de Deus. É por isso que quando rejeitamos o ensinamento dos apóstolos — a tradição apostólica do Novo Testamento — estamos rejeitando a própria autoridade de Deus.
R. C. Sproul nasceu em 1939, no estado da Pensilvânia. Foi ministro presbiteriano, pastor da igreja St. Andrews Chapel, na Flórida.

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